Os efeitos sócio-econômicos da crise sanitária de COVID-19 impactaram sobremaneira os empresários brasileiros que se viram em meio ao caos. A busca pela preservação da empresa, da renda e dos empregos passou à ordem do dia e todos os esforços passaram a focar na sobrevivência.
O período é realmente complexo e com a necessidade de tomada de decisões duras e que muitas vezes carecem de tempo de amadurecimento, mas, por outro lado também exige uma visão mais estratégica, de médio e longo prazo para preparar as velas e a tripulação para a saída do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 2020 publicado em 20 de março de 2020.
Nesse momento o investimento em um programa de Compliance eficiente e eficaz faz emergir grandes valores intrínsecos que pouco se entendia, ou muitas vezes eram ignorados, por alguns motivos que buscaremos elencar sucintamente:
Um programa de Compliance traz em sua gênese 2 aspectos reveladores de grandes empresas: a responsabilidade e a liderança de seus executivos e o engajamento de todos os seus empregados. A ação conjunta de executivos e empregados que demonstra aspectos importantes, tais como: credibilidade e confiança; transbordará os limites da empresa e trará entre outros valores, o ganho reputacional.
O conhecimento dos riscos da empresa, através de um mapeamento e monitoramento contínuo, trazem em seu conceito primordial o real conhecimento e compartilhamento de eventuais pontos merecedores de cuidado e necessidade de implantação de mecanismos de mitigação desses riscos. Aqui vale abrir um parêntese para explicar que os riscos operacionais que, ao menos em tese, não cabem à área de Compliance, mas que a cultura compliance acaba por abarcar, uma vez que impulsiona a conscientização das áreas operacionais em discutir, mapear e implantar mecanismos para mitigar os riscos.
Nesse momento pandêmico, imagino, que executivos tenham experienciado sustos diários ao “descobrir” que a empresa sofre problemas sérios em áreas que eram negligenciadas ou eram relegadas a um segundo plano.
A comunicação e o treinamento de toda a empresa possuem, além do objetivo primordial de difusão do programa de compliance, por óbvio, a missão de manter coesão e alinhamento das ações de todos os colaboradores, desde momentos mais ordinários até os mais difíceis e complexos. Certamente, nesse momento de crise a boa comunicação e agilidade das ações fazem diferença vital para a empresa.
A organização e a manutenção atualizada dos documentos e procedimentos de uma empresa sempre enfrentaram um grande dilema: documentação x metas. A meu ver um falso dilema, tal como saúde x economia se impôs nessa crise. Explica-se de maneira clara: sem o primeiro não há o segundo. Jamais uma empresa conseguirá atingir eficiência e eficácia sem que tenha capacidade de medir e colocar em prática continuamente melhorias em seus processos, conjugação máxima do PDCA (Plan I Do I Check I Act).
O autoconhecimento e a capacidade de reação das organizações que possuem documentos e processos ajustados e atualizados certamente agrega muito valor nesse período em que simples decisões, tornam-se complexas e duras, mas vitais.
Um simples, mas custoso exemplo que amalgama tudo o que foi disposto acima vem de 2 notícias veiculadas pelo jornal Folha de São Paulo: O Ministério Público do Trabalho recebeu 25 mil denúncias de exposição ao risco de contaminação entre 01 de março e 12 de julho deste ano; e Sindicato pede R$200 mil por funcionário da JBS com COVID-19.
Pois bem, para se ter uma ideia da amplitude do problema simploriamente exposto, imagine enfrentar essa crise e ter que discutir judicialmente com sindicatos e com o MPT sobre a forma que a empresa tratou e enfrentou a pandemia sanitária eventualmente expondo seus empregados? Imagine sofrer perdas financeiras, reputacionais e mais: investindo tempo e energia nessas ações contenções.
Tivemos a honra de implantar alguns programas de Compliance que contemplavam os pontos acima, o que nos traz serenidade e clareza de afirmar que as decisões de muitos empresários seriam menos custosas e arriscadas nesse momento de crise e, por certo, teriam uma maior capacidade de visão estratégica para o enfrentamento dos próximos meses que prometem ser ainda mais desafiadores, se pudessem contar com essa cultura e estrutura de Compliance em suas organizações.